Trago aqui um trecho de um texto lido em Genética no nosso primeiro semestre da psicologia, chamado o "Mito do Altruísmo", do autor Robert A. Wallace.
Lembrei dele estes dias e resolvi compartilhar com vcs, já que neste semestre estaremos viajando nos conceitos abstratos do excelentíssimo Sr. Freud.
Esse texto também traz incômodo, tanto quanto as teorias de Freud.
E mesmo sendo duas idéias totalmente diferentes, elas provocam incômodo pelo mesmo motivo: elas remetem a um tipo de determinismo.
o que significa que ninguém pode escapar.
e convenhamos... isso incomoda.
não é?
aí vai ele:
"(...)Seremos simplesmente instrumentos involuntários de genes egoístas, como sugeriu Richard Dawkins, da Universidade de Oxford? Talvez, em certo sentido, os genes estejam no banco do motorista, simplesmente nos usando como alojamento temporário, até poderem forçar-nos a fornecer-lhes outra geração, mais jovem e mais variável, de corpos quentes. É uma idéia particularmente doentia, que agride as sensibilidades poéticas de cada um de nós. Obviamente, precisamos olhar mais de perto a questão.
Deve-se admitir que só nossos genes têm realmente alguma coisa a ganhar ou perder com nosso comportamento. Os genes em nossos corpos são aqueles – ou, precisamente, são réplicas daqueles – que foram transmitidos por nossos ancestrais. E são as únicas partes físicas de nós que terão oportunidade de continuar quando nós partirmos. Eles proporcionam um delicado, mas robusto, fio de vida entre as gerações efêmeras. São periodicamente reembaralhados, divididos ao meio e introduzidos nos corpos de novas gerações de crianças. Naturalmente, algumas dessas crianças traem a confiança e deixam de ter descendentes próprios – e o sortimento de genes que permitiu tal traição é assim rapidamente removido da população. Contudo, pode-se esperar que a maioria de nossos filhos obedeça fielmente ao chamado de seus genes. Terão filhos e os amarão. Tornar-se-ão atraentes. Serão orientados para o sexo. Lançarão no ostracismo os pervertidos. Reproduzir-se-ão.
Que faz de nós tudo isto? Guardiães genéticos? Alojamentos temporários de cromossomos? Escravos de minúsculas moléculas enroladas, que nos operam por controle remoto? Pesados robôs, cheios de racionalizações, explicações, superstições e escusas, mas seguindo cegamente o Imperativo Reprodutivo? Que dizer do fato de estarmos aprendendo a tocar guitarra clássica? De estarmos interessados em dança de sapateado e podermos começar a tomar lições logo? De sermos ordeiros e responsáveis, e termos empregos terrivelmente bons? De termos lido Camus e não pronunciarmos o “s” de seu nome? De termos bons amigos, realmente bons? De sermos grandes pessoas e nossos pais se orgulharem de nós? Que dizer de tudo isso? Cromossomos levam-nos a fazer isso? “Não”, vem a resposta da montanha, “mas eles não se importam que você faça” – desde que isso não interfira em sua reprodução. Ser uma pessoa esplêndida pode até mesmo ajudá-lo a encontrar mais facilmente um parceiro e deixar ainda mais genes. "Eles não se importam com o que eu faço? Grita você. Estúpidas moléculas enroladas não se importam? Essa é muito boa! Homem, você está doido!". Mas é ainda pior que isso. As moléculas não são se quer estúpidas. São simplesmente indiferentes. Elas nem sequer sabem que existem. Simplesmente ficam lá no fundo das células, oferecendo-se cegamente como padrões para formação de enzimas. Essas enzimas, por sua vez, produzem certas reações químicas e com isso fazem diferentes células adquirirem propriedades determinadas. Algumas enzimas dirigem a formação de células musculares ou sanguíneas. Outras podem ajudar a formar o hipotálamo ou parte do cérebro. Portanto, se o cérebro dirige nosso comportamento, as raízes do comportamento podem ser totalmente encontradas nos genes. Genes são o diabo que leva você a fazer o que fez.(...)"